Monday, July 23



E ai pessoal, entrem neste site http://baixaki.ig.com.br/info/joost/index.html

By Rhozaura Dias




Saturday, July 7

Lista dos 10 Melhores álbuns da década de 70

1.Sabbath Bloody Sabbath – Black Sabbath
2.Machine Head – Deep Purple
3.IV – Led Zeppelin
4.Nevermind The Bollocks – Sex Pistols
5.Who´s Next – The Who
6.Loud´n´proud – Nazareth
7.Dark Side of the Moon – Pink Floyd
8.Exile On Main St. – The Rolling Stones
9.Let It Be – The Beatles
10.Long Live Rock´n´roll – Rainbow

Lista dos 20 melhores álbuns da década de 90

1.Nevermind - Nirvana
2.Superunknown – Soundgarden
3.Vs – Pearl Jam
4.Dirt – Alice In Chains
5.Purple – Stone Temple Pilots
6.Betty – Helmet
7.Siamese Dream – Smashing Pumpkins
8.Rated R – Queens of the Stone Age
9.Follow the Leader – Korn
10.Dysfunction – Staind
11.Foo Fighters – Foo Fighters
12.Mer de Noms – A Perfect Circle
13.The real Thing – Faith No More
14.The More Things Change… - Machine Head
15.Celebrity Skin – Hole
16.Boggy Depot – Jerry Cantrell
17.(What´s the Story)Morning Glory – Oasis
18.Chaos A.D. – Sepultura
19.Carnival Of Souls - Kiss
20.Temple Of The Dog – Temple Of The Dog


Lista dos 10 melhores albums dos anos 2000

1.White Pony – Deftones
2.Iowa – Slipknot
3.Awake – Godsmack
4.Diorama – Silverchair
5.Songs For The Deaf – Queens of the Stone Age
6.Is This It ? – The Strokes
7.Escapexstacy – Poisonblack
8.Vena Sera – Chevelle
9.Wolfmother – Wolfmother
10.Come (what)ever May – Stone Sour
Por José Fernando Costa

Friday, May 25

Alma: Alimento pra música

Todos já ouviram falar que a música é um ‘alimento pra alma’. É verdade. Porém ninguém falou que a música também se alimenta de nossas almas. Não é metáfora ou misticismo, é apenas uma constatação. A música se alimenta da alma.
Vários artistas que já passaram, e ainda estão nesse mundo, levaram e levam com eles o amargo sabor de se entregar por inteiro ao seu trabalho. Não que isso seja uma coisa ruim, mas é um vida muito desgastante, porém a veracidade das obras, digo, músicas – que afinal são obras de arte – é latente.

Vejamos alguns ícones do rock’n’roll como Jim Morrison, Kurt Cobain, Ian Curtis, Syd Barret, Brian Jones, enfim, a lista é gigantesca. Todos esses artistas foram devorados pela música através de suas almas. Alguns induzidos por outros instrumentos de manipulação (drogas), outros por não suportarem as pressões do show business e suas conseqüentes invasões de privacidade, passando de pessoas à ídolos, onde o que representam é apenas sua imagem. E a multidão não quer saber se essa pessoa que está sendo vendida tem um coração batendo e uma vida conturbada, ou mesmo problemas normais como qualquer outro cidadão.
O que leva um artista a compor, senão a necessidade de jogar para o mundo um grito de angústia, dor, amor, delírio, raiva, felicidade, ou qualquer outro sentimento que precisa sair de sua alma. Os aspectos místicos da criação foram sendo derrubados aos poucos através da psicologia, mas ninguém além do que o próprio artista saberá explicar o que acontece no momento da criação. Existe uma aura mística e espiritual de contato com os seus sentimentos mais profundos e inconscientes.

Partindo para uma outra área do conhecimento, porém também artística, apenas para exemplificar, tomemos como modelo, o movimento surrealista. Pintores como Salvador Dali, conseguiram entrar em contato com o seu inconsciente, tornando o mundo imaginativo, onírico, também um mundo real. Outro movimento da arte moderna que pode servir como exemplo é o expressionismo abstrato onde artistas como Jackson Pollock, De Kooning, expressaram seus sentimentos através de suas pinturas cheias de emoção, fortes, vivas. Pollock mesmo afirmara que devia muito de suas inspirações aos conceitos psiquiátricos de seu tratamento contra a desintoxicação alcoólica.

Todos estes exemplos serviram para ilustrar meu pensamento de que a música consome as nossas almas. Inevitavelmente. Basta ter algum tipo de emoção ou sentimento, deixar os sons levarem seu inconsciente até o infinito, para sentir.
José Fernando Costa

Monday, May 14

Colaboração oportuna de um colega que
habita o nosso meio ambiente.
Nova versão de Hopper de Fernando Theodósio,
acadêmico de Artes Visuais (FURG).
Você já assistiu esse filme antes?

Monday, April 23

IMPRESSIONISMO


Eu Lembro...
V.B

SURREALISMO

Eu Lembro!
V.B

EXPRESSIONISMO

Eu Lembro...
V. B

POP ART

eu lembro...
eu lembro!
Ass: V. B.
Vini de la Rocha

Saturday, April 21

Vini de la Rocha

Sunday, April 15


O BLOCO PERFEITO

- Ela permanece estática, o olhar tornou-se vazio após muito tempo de angústia. A dor é intensa, os músculos estão dormentes e os pés calejados. Incessante esforço, a dor não é apenas física, a decepção corrói por dentro.

**** Érica sentada no box do banheiro com a água caindo em seus pés doloridos. Seu olhar atravessa a água e vai além das lajotas da parede. (Câmera alta em plano geral com travelling em volta dela passando para planos de detalhes - pés e olhos... Há velas espalhadas pelo banheiro).

PAVILHÃO 7 / SETOR DESCONHECIDO

- C1 encontra-se imersa em líquidos regeneradores que a conservam com forma totalmente humana. Estamos por volta de 2053, talvez, não se sabe ao certo, já que as memórias foram apagadas do sistema.

**** O corpo flutua imerso em um tanque de vidro localizado no centro de um laboratório de tecnologia muito avançada. Um dos cientistas aperta um botão que projeta uma imagem com alguns dados referentes à composição dos C1.
C1 se levanta e olha a sua volta.
(Câmera alta, o corpo visto de cima com zoom in desfocando até embaçar totalmente – panorâmica ao redor da sala, olhar curioso – detalhe no rosto do cientista, expressão de satisfação - plano geral – detalhe nos códigos escritos na projeção). Luz branca focando somente a personagem, o resto fica na penumbra, iluminada apenas pela luz de botões de computadores...

- C1 foi criada a partir de experimentos químicos de cientistas integrantes de uma sociedade secreta do governo. Ela é uma droga poderosa, também uma mulher muito atraente. Possui estatura baixa, pele branca, quadril estreito e músculos rígidos. Não possui seios fartos e não é uma beleza comum aos padrões estéticos da sociedade. Isso torna sua forma intrigante.


**** detalhe no pescoço de frente em tons avermelhados, faz a volta descendo para os ombros abrindo em travelling para as costas até o quadril – foca os pés em meia ponta, subindo para os músculos das coxas e do abdome com (luz branca?) – foca o colo com uma das mãos sobre ele incluindo um pedaço do rosto em perfil, em cores “psicodélicas”.






- Não parece haver mecanismos que consigam fazer C1 lembrar de seu passado. Porém alguma coisa em seu cérebro ainda age de forma humana. A frieza de ser um biomecanóide não afetou totalmente sua capacidade de possuir sentimentos. Também estes sentimentos não podem impedir C1 de agir de forma impiedosa.

**** O cenário é um cubículo (quarto) com paredes de metal, cheio de “gavetas” imperceptíveis, secretas. Ela está sentada sobre uma projeção de uma cama, observando suas sapatilhas, nem ela sabe por que, mas as mesmas representam algo que parece ir além de um simples instrumento de trabalho.
(plano geral no quarto – câmera baixa, como se tivesse apoiada na cama, focando as sapatilhas nas mãos dela em primeiro plano e o rosto em segundo desfocado – depois ao contrário.)
Ao mesmo tempo, mostra como se seu peito estivesse aberto com o coração visível pulsando e correndo o sangue nas veias.
Para contrapor esse lado sentimental, C1 estará usando uma cinta liga com meia 7/8, que ajudará no suporte para carregar uma pistola automática de ácido sólido. No mesmo momento terá foco as veias da fonte latejando de raiva. Assim começará uma espécie de curto circuito momentâneo. Apenas uma explosão de raiva, por não saber quem é realmente. A projeção se desliga em meio a faíscas coloridas, fazendo ela saltar longe rodopiando pelo ar.
A escuridão domina o ambiente!!!

- C1 vicia, exala em seu corpo um perfume químico que, quando inalado, causa alucinações pertinentes ao inconsciente de cada indivíduo. Ela se torna o ser dominante. Porém possui total controle em relação ao momento que deve utilizar-se dessa arma...


continua...

By Heloísa Germany

Wednesday, March 21

Boletins da cidade dos rios sufocados 8

Eu também aprendi a colocar um sorriso sobre a agonia. Foi no momento em que decidi que o suicídio não era uma saída pra mim, pelo menos não ainda. Mas não consigo disfarçar no estômago. Agonia constante. Almocei, sentei num banco de praça pra fumar dois cigarros, continuar lendo meu livro. Um homem pediu fogo e se desculpou pelo incomodo de ter me abordado. That´s the modern times beibe, a cada passo tenho vontade de vomitar. Passo por um grupo de homens engravatados tão grandes que com a carne de cada um deles dava pra fazer uns 4 moleques papeleiros. Vai ver por isso tem menos ricos, porque eles precisam de muito mais espaço, com suas panças e seus spas para de tempos em tempos brincar de faminto. Passo por um grupo de homens engravatados grandes, intimidadores, que riem alto e falam de salmão. Na soleira da calçada, um resto de velha oferece kits de agulhas de costura. Me vejo enchendo as mãos com as agulhas da velha e as enterrando entre as pernas, nos escrotos dos homens grandes que comem salmão e suam cor de rosa.
Eu me vejo fazendo isso, mas eu não faço.
O que eu faço é ver isso. E provavelmente, pelo menos hoje, todos eles vão brochar. Uma satisfação como um doce roubado já que a criança não pode ter pernas.
Sorrisos e agonia, a mistura perfeita dos dias. Sorrir é a ordem em todos os estados, grupos e facções a saída das massas pra todo o sufocamento crescente tem sido brutalmente combater qualquer insatisfação. Pra isso o rock´n roll foi parar nas vitrines das lojas de departamentos, as religiões viraram universidades, os rituais negros tem cada vez mais luz branca artificial, sexo três vezes por semana com acompanhamento cronometrado médico.
Eu vejo todos os dias as mesmas paranóias de vinte anos atrás, com a diferença de que quanto mais a onda gigante avança, mais anestesiados e entediados de gritar estamos, então pacificamente sentamos nos nossos quintais e aguardamos que o que vem nos engula enquanto somos felizes, porque depois de toda a pressão sensacionalista, reclamar saiu de moda.
Calo minha boca cada vez mais. Todos os dias é como se mais um ponto invisível fosse dado selando meus lábios. Mas lá dentro, eu não deixo ninguém mexer. Dentro, meus quartos escuros gritam, escorrem, se contorcem, meu quartos escuros sonham atrocidades de revolta, os cantos dos meus quartos escuros inventam novas palavras pra não cansar das mesmas dores, as fechaduras dos meus quartos escuros se negam a tapar o buraquinho de espiar a realidade. Todas elas.
A gata tem derrubado toda a sua comida no chão. Penso em castiga-la, depois me lembro que não adianta muito ensinar nada pro futuro.
O futuro é o inferno dos erros passados.
And i dont even care about anything done to love
i just wanna someone to talk.
To walk
Caminho sozinha, pra que não haja culpados fáceis pro tombo.
Caminho sozinha porque é de solidão que a mente se faz.
Ontem tinha reunião de sindicato.
Aqui ainda dá polícia quando tem greve.
Aqui eu apanho se sair na rua de chinelo.
Hoje é dia de contracheque, amanhã conferir estoques.
Eu sou o rio, apodrecendo debaixo da pele. Mesmo morto, não pararei de correr.

Saturday, March 10

Boletins da cidade dos rios sufocados 7

Aviões passam o tempo inteiro bem perto da janela da minha sala. Perto que dá pra sentir a vibração. Me lembrando que eu quero estar em todos os lugares. O que provavelmente significa qualquer lugar menos aqui, e qualquer lugar acaba virando aqui,
mas porra, dê-me meio motivo pelo qual ficar. Em qualquer lugar. Eu não vejo.
E os meus dias passam batido, grande parte entre quatro paredes creme,
eu repetirei as palavras sobre elas até que se cansem da existência e desapareçam.
No banheiro do escritório há uma pequena janela. Ontem, no final da tarde, fiquei lá, tentando capturar com as mãos a sombra amarela que o sol faz na parede pra avisar que vai morrer e fará falta. Eu odeio o sol e ele me faz falta.
Love and Rockets, ãahn, sem dúvida, eu adoraria viver lá, bem assim, tirando sangue de mordida, tirando sangue de pedrada. Porque o amor é só uma grande mastigação cardíaca.
Mas não tem mais isso, de sangrar. Falta fluxo e razão. E mesmo que sangrasse, seria algo restaurado em laboratório. Acho que descobri que a pergunta que carregamos até o fim é se somos muito inocentes ou muito perversos. Você pode tomar partido, mas bem lá no fundo não tem certeza de estar preparado pra nenhuma dessas escolhas. Ontem, no final da tarde, fugindo de enlouquecer rápido demais, desejando um cigarro que demoraria mais duas horas, escondida no banheiro do serviço, eu só queria que as latrinas ainda fedessem. Conceder normalidade ao que é normal. How normal is bizarre? Morrer de hemorragia uterina na porcaria do dia internacional da mulher? As datas nunca morrem, na verdade elas se sobrepõem cada vez mais, umas sobre as outras, gerando uma suruba de fracassados que merecem um dia por ano de deboche arrasador.
Até a 13ª instancia, eu sou uma pessoa, a moeda que mais tem perdido valor de mercado.
Quando eu era garota, vi um menino sendo estuprado, e só pude correr. Eu não conto isso pra ninguém. Alguém em mim fugiu aquele dia e nunca mais voltou.
Tudo o que eu quero é não precisar mais correr, ignorando o tamanho do monstro. Monstruar mais do que o medo.
Nossas moléculas compreendem a realidade melhor do que as nossas cabeças. O corpo vem pirando faz tempo. Sou só eu ou o realismo de hoje parece uma ficção científica ruim, e sem efeitos especiais salvadores, e sem redenção nem a ultima planta que guarda o amor.
Os olhos delatores dos malucos de rua que me contactam.
As mães obcecadas pelas tragédias infantis cada vez mais perversas;
Os edifícios enfermos engolindo cada vez mais inescrupulosamente as mulas;
A noite cada vez menos negra em cada vez mais lugares
Em todos os meus sonhos de apocalipse, a escuridão é bordô
As fibras de prazer e recalques e fetiches mórbidos de cada um de nós cada vez mais dissecados, fio a fio separados e engordados,
pra que nos distraiam o suficiente, para que nos sustentem, nos mantenham, já que não sobra mais muita idéia de futuro. Quanto tempo faz que não se escrevem histórias para daqui há duzentos anos? Movimentos artísticos enterrados são sintomáticos.
Hoje pela manhã, sábado, fui á feira sem ter dormido mais do que duas horas. Apesar dos dias cada vez mais quentes em todos os lugares, aqui, cedo pela manhã, ainda é bom o sol. Eu vou lá, e guardo no fundo dos meus olhos todas as cores e formas dessas coisas vivas que ainda existem. Eu esfrego minhas mãos entre os maços de chás e temperos, alecrim e hortelã, desejo que haja olfato na memória celular.
Dormi a tarde inteira. Sonhei com um gato que apartir de um talho na barriga se transformava num cão. Eu sonhei que deveria conhecer uma mulher que me pareceu pouco confiável,
durante a tarde choveu, e por dois instantes sonhei algo macio e tranqüilo, que não consigo visualizar, talvez só umas cenas inseridas como medida de segurança
pra me alimentar. Não preciso disso. Ou sim? Alguns dias são mais difíceis do que outros, mas o fato é que quanto mais se cai, mais rápido se levanta. Como cicatrizes protetoras, como treinar a mola interna até que não mais desgaste, nem relaxe, moto perpétuo de existência. Principalmente pra quem como eu, ainda não decidiu sobre os próprios motivos de continuar, só a persistência salva. Não sei bem porque insisto, mas aproveito o jogo.
You cant get a suntan on the moon, but I wouldn´t mind a holiday there, continuo olhando, bem fundo para os dois lados dos olhos das pessoas.
Isso às vezes tem a sensação de que penetram em mim duas mãos unidas, como se rezassem, na altura do externo, entre as costelas, mergulhando, através da pele, separando a carne, e uma vez enfiadas lá dentro, se espalhassem, se misturassem em mim até desaparecer.
Mm.
A gata só tem existido depois da meia-noite.
Para completar o óbvio, as bandas velhas são as melhores.

Monday, February 26

Boletins da cidade dos rios sufocados 6

Nestes dias em que vivemos, o surrealismo terrível se auto-engole, digere, defeca, torna a ingerir, continuando e continuando esse ciclo incestuoso de transformar absurdos em normalidade e não descansar dos dogmas mais estúpidos, gerando um monstro que assusta um monstro.
E eu tenho que ver vítimas esfoladas e parentes de vítimas esfoladas sorrindo com a boca amarela, pra baixo, e dizendo com a alma sem dentes “eu acredito que os meus filhos verão um país mais justo”. Tenho vontade de mastigar a televisão quando vejo uma coisa dessas, dou saltos pela sala, gritando como?, mas comooo?.
Eu sou cheia de momentos, pois é. Esse é um dos meus momentos “ser ingênuo” enfrentando o mundo. A mesma cena num momento cínico, que é o em voga no momento, dou umas três tragadinhas rápidas no cigarro, com um olho meio fechado, e gargalho como se fosse bonito ver alguém comer vidro.
E ainda penso “boa era a época em que a gente só comia merda”.
Hoje em dia a gente engole de tudo. Como hoje, o dia de hoje.
Com a mudança de horário, acordei uma hora mais cedo do que o necessário.Uma hora a menos de sono, uma hora a mais de dúvidas. Levantei, disposta, saí de casa ouvindo the cure, nunca se sabe qual a previsão do tempo aqui, protetor solar e guarda chuva, ratos, putas na padaria, policia montada, não encontrei a academia de defesa pessoal, olhei as pessoas e vi carnes que não se gostam, comprei um café com leite, “bem medido” gritou o turco pra garçonete, nem uma gota a mais ele quis dizer com isso, cheguei no trabalho, décimo primeiro andar, minha sala é sem janelas, duas luzes brancas, quatro paredes cor de creme, ar condicionado central psicopata, ou nos congela ou nos frita, sempre o mesmo ar requentado, me debati em burocracia, enterrei e desenterrei papéis, tomei café, pensei no blue brain, o blue brain pensou em mim, dei telefonemas, garanti pretensas ordens, repeti ofícios, cumprimentei, dei tchau, almocei, olhei as pessoas e vi nuvens de pontinhos que brincam de se odiar e se amar, pelo correio enviei um rosário para minha antiga benzedeira (pela minha sanidade ahahahaha), voltei no horário, recebi elogios (jamais muito efusivos), dei explicações, corrigi ofícios, me arrependi de ter levado esse trabalho tão longe, fui a sala da minha chefe (tem janelas, percebi que estava chovendo), respondi a perguntas inúteis sobre mim, declinei a sugestão-convite- pressão de seguir a escola de direito, voltei para a minha mesa, solicitei que os armários fossem trocados de lugar, pedi café, fiz cócegas imaginárias no blue brain, ele espirrou em mim, fiquei ouvindo smashing pumpkins num fone de ouvido só enquanto corrigia números. fui no andar de cima tirar xérox, troquei confissões numa sala e abafei uma fofoca na outra, porque faz parte do emprego, assinei errado o ponto de ontem, dividi um cigarro (o “fumadouro” tem janela, percebi que o céu entardecia azul), voltei pra minha sala, conferi minha conta não lá grande coisa, odiei todas as minhas escolhas até aqui, tive mais certeza ainda de que eu não poderia ter sido nenhuma outra pessoa do que tudo o que me aconteceu até aqui. Tudo o que me acontece. Saí já era de noitinha. Profundamente azul. E a minha cabeça explodindo de possibilidades e incapacidades. As vezes, eu penso que já tive muitas cabeças em alguma das minhas vidas, e nessa aqui, experimento uma sensação de membro amputado fantasma.
Estão todas as cabeças o tempo inteiro ao meu redor.
O difícil é saber se a minha coluna vertebral pode suportar.
Mas eu sou curiosa, e ainda não tenho um plano melhor do que continuar seguindo.
A gata, quando não dorme, faz acrobacias birutas pela casa. Gosto de pensar que ela é feliz assim.

Friday, February 23

boletins da cidade dos rios sufocados 5


eu sou um tipo de cachorro maldito que só compreende ordens cruelmente assinaladas
e ao mesmo tempo odeia ser mandado.
eu sou um tipo de cachorro maldito que só sabe ser gato. a gata, aliás, se parece cada dia mais com uma raposa. minha adorada e odiada raposinha branca.
a frase do dia é "quer que eu te bata com o universo?",
ou como tem dito o slogan do filme do cavaleiro fantasma, eu usarei minha maldição contra você. esse"você", dito seja, é uma entidade não identificável. o que não significa nem um pouco que Ela não exista.
veja bem, nós poderíamos existir sem Ela. mas só continuamos existindo até aqui por que Ela permitiu. as fraquezas, vcs sabem, são inventadas como marcas de chiclete.
todos os tipos de guloseimas.
mas ser forte e insistente compensa. talvez me mate, mas sempre compensará.
e depois, a alergia no corpo e as feridas nos pés já começam a sarar. eu faria de novo pelo dobro do preço.
há seis dias atrás, era carnaval.
não era grande coisa enquanto conjectura, mas eu pensei, de repente, que se eu "enxergo" mais do que “usualmente as pessoas praticam”, se eu percebo mais,
se a minha pele é capaz de sentir o que eu não conheço,
talvez, eu também possa aprender a ver.
ver, é quando voce tem consciência.
é quando voce aprende a compartilhar e convocar a realidade paralela.
ou seja, eu desejei ver, suspeitei que fosse possível, intui como começar
E acreditei que talvez por algum motivo eu esteja na cidade certa para começar a brincar disso.
só podia ser num deserto.
não é sempre num lugar onde vazios imperam que as coisas acontecem?
um vazio com cavalos dágua sem nome enterrados. um vazio que não sabe fazer noite, onde todas as putas são velhas e todas as travestis de primeira linha.
uma cidade que tem todas as igrejas com todos os tipos de vendilhões,
por onde o futuro passou brevemente e deixou pra trás.
Aqui, o futuro passou uma noite, trocou almas por promissórias de desejos, fez muitas contas, deixou muitas histórias mal contadas e visões distorcidas, e foi embora na manhã seguinte roubando todos os cinzeiros e fotos de infância.
No deserto, onde pra sobreviver voce acha beleza no que estiver ao alcance.
Pro bom e pro ruim.
De cada um. E fodendo com todos.
Há seis dias atrás, sentada na sala, olhei pra fora, escolhi uma janela qualquer, uma lá longe, no topo de um prédio que tem um terraço bonito pra pandorgas,
se ainda existisse uma,
e me apoderei da idéia daquele cômodo.
Consegui me concentrar porque era dia propício, varri rápido todos os outros pensamentos da minha cabeça, então os meus olhos já não piscavam nem por dentro nem por fora.
Ainda não sei como funciona, mas sei que desliguei a luz do quarto de um tetraplégico sem nunca ter estado lá.
Pode ser só fantasia e então eu sou a filha predileta do acaso.
O importante veio depois.
Quando eu era adolescente, batia punheta pensando em nada. No vazio. Sem nenhuma fantasia, nem lobo mau, nem chapeuzinho nem caçador encantado.
Eu vivo sozinha,
gosto de passar um dia inteiro sem dizer uma palavra as vezes.
Os vazios me compreendem. E eu entendo o que eles dizem.
Assim, em posse de todas as coordenadas concentradas no ponto do vazio,
como quem desiste de procurar uma essência e simplesmente se liberta de tudo,
tudo, o que nos constitui, nos segura, nos prende, eu tive.
O sonho dourado de qualquer iogue ou físico quântico. Eu vi a dança.
Eu percebi a dança.
Eu dancei o caos da menor partícula, a mais estúpida ínfima base de toda a energia,
A informação protegida,
A percepção pura dessa coisinha infinitamente minuscula que criou o tempo, o tamanho, todas as grandezas e pequinices, o fundo do que existe,
de ti em mim no porco no prazo na função nas esferas no que vai vir porque o que foi já foi.
Não tem mais como voltar do que eu vi.
Acho que algumas vezes eu tive uma certa esperança medíocre de que o momento de me tornar livre sem volta não viria. Que eu o deixaria passar. Mas não.
Eu fui atrás e da pior melhor maneira. Espiando sem ser convidada.
Enfim, no dia seguinte, acordei com alergia no corpo inteiro. Mais forte no couro cabeludo, e eu cocei com muito prazer.
Uma ferida no pé direito, e duas no pé esquerdo.
Mas acho que ninguém espia a matéria de graça.
Paguei moedas a três mendigos pra honrar pretos velhos e barqueiros.
As marcas estão sarando. E então eu vou de novo.

Monday, February 12

Boletins da cidade dos rios sufocados iv


A gata ronrona no meu colo, doce e possessiva, o que quer dizer que morde com força e alegria. Eu passei sete dias longe. E foi como se não tivesse; sair daqui ficou mais fraco do que era antes. As cidades pras quais retornei, onde apesar de tudo eu guardava a fantasia de pequenos cinco minutos de genuína e despretenciosa liberdade, mesmo que forçada, esses lugares, em poucos meses, também vão sendo sitiados. De dentro pra fora. Numa das cidades,meus amigos gays não saem mais de casa porque os skinheads voltaram a atacar, dessa vez sabendo menos ainda quem eles são e quem eles odeiam. Só uma questão de escorrer a revolta dos punhos na cara de alguém. Eles estão também na cidade dos rios sufocados e em santiago do chile. Na outra cidade em que eu estive quase fui presa, por causa de um puto baseadinho. E algum filha da puta que caminhando pelo parque, por falta do que fazer, nos denunciou. Eu já tinha me esquecido que isso podia acontecer lá. 3 viaturas, eles eram em 10, com muitas armas e nós éramos 3, a essa altura com um cigarro na mão. Isso é constitucional? Isso me dá alguma segurança? Depois da humilhação e da agressão, nos safamos. Mas eu percebi quem foi. E depois de muito tempo sem fazer isso, praguejei. Não faço muito porque eu sei o que acaba acontecendo quando brinco disso, e acho crueldade. Mas aquele desgraçado vai perder as bolas pros dentes do seu labrador. Às vezes, pra estar vivo, é preciso se vingar com o ódio de quem defende um ponto de vista que pode mudar o mundo. Vá cuidar da sua vida é um desses. No entanto, o que importa mesmo, é que cada vez mais, todos nós somos reconhecidos como inimigos. Cada vez mais “geni”, mais apontados, identificados, as placas dos nossos carros são anotadas quando paramos na beira da estrada pra olhar a porra da paisagem. Porque ninguém mais faz isso. Porque é muito estranho se conceder, relaxar, se derramar, existir com a carne e todos os desejos e marcas que esses tempos tem deixado.
O “sugerido” é a assepsia existencial.
Eu não posso dar colo pra gata enquanto escrevo isso, mesmo que ela não leia, finjo de proteger alguém do que eu sei. Justo ela, justo ela que é até capaz de me contar.
Nessa cidade em que quase fui presa, como no resto do estado, os policiais agora tem metas de revistas (e por suposto apreensões), você acha que falta muito pra oferecerem dinheiro pela cabeça que pensar?
É só um programa de produção em massa capitalista falido aplicado ao vigiar e punir, mas não me chame de óbvia. Óbvia é essa nossa impotência de quem sabe demais, e pra resistir, só nos sobrou existir.
Conseguir sobreviver e existir ao máximo.
Como uma personagem tão fatal que nem um russo de avó alemã seria capaz de criar, eu sei que nada mais pode ser mudado, revertido. Ainda assim o que me sobra é insistir nessa insurreição, nessa revolta de restar, estar aqui, o máximo possível. Me infiltrando, me quebrando e colando cacos, conspirando e mantendo a minha cota de inocência, mesmo que doa mais assim. Sabendo que o ar vai acabar, aproveitando cada tragada.
E na contra corrente de tudo, ficando mais forte.

Os rios estão correndo mais devagar no mundo inteiro.
Por isso que apartir de agora a chuva matará mais.

Sunday, February 4

Boletins da cidade dos rios sufocados 3


A gata saiu do cio e eu voltei a ser espancada por ela pelo menos uma vez por dia e uma vez por noite. Fora isso, voltaram os giros enlouquecidos pela casa com as unhas em riste. E as funções de gaveta. De uns meses pra cá, todas as gavetas que ficam mais ou menos ao seu alcance são abertas e os seus conteúdos esvaziados. Me pergunto se ela está procurando ou escondendo alguma coisa. Ou talvez perseguindo. Desde criança acredito que existam por exemplo seres que vivam especificamente em degraus de escadas de madeira. Mas isso é praticamente um hobbie besta mantido como alimento de nostalgia.
Eu estou numa tpm que dura 3 dias como se fosse um deserto que vai me sufocar. Não me importo tanto com o inchaço, nem com a fome, nem com os peitos que doem, isso tudo que se foda. Meus hormônios, desequilibrados. Minhas visões se descomprometem. Se desamarram. Eu fico mais do que sensível. As vezes na verdade, eu fico até gelada. Durante esses dias, eu sinto, penso, existo, exerço pedaços especiais de todas e quaisquer existências randômicas ao redor o tempo inteiro. A freqüência é tanta e tão intensa, como fotografias passando rápidas para formar um filme, eu também não percebo, não tenho acesso aos quadros isolados. Fica só a sensação constante de confusão, de que eu, durante esses dias não consigo agir pra mim e por mim, fico existindo como uma passagem. Talvez seja isso mesmo e esses dias são como o imposto de renda, uma espécie de regra feudal; nesse período me vejo obrigada a transferir energias, do nada pro nada, uma ponte sem sentido. Quem sabe. Eu não sei. É até uma vergonha perceber e assumir o quão pouco eu sei sobre o que acontece comigo e em mim. Mas talvez isso só aconteça comigo por essa minha condição, digamos meio “eventualmente imbecil” frente a vida.
Isso e porque apesar de curiosa, eu sei que tem coisas que não vale a pena perguntar, querer saber.
As vezes não tomo banho todos os dias, hoje preciso, já fazem 3. Hoje eu quero. Eu sempre quero. Mas não ser a pessoa mais perfumada do mundo é uma ótima contribuição pra segurança urbana quando o centro fica vazio. “O centro”. “Os centros” são sempre lugares fodidos nos fins de semana. Pois é, estamos naquele ponto em que qualquer coisa tah valendo a pena pra uma mulher se proteger a noite, mas ainda não tão selvagem que os predadores não tenham cheiros de preferência. Se é que você me entende.
Preciso regar as solas dos meus pés, estão muito secas, essa semana aparei um pouco as arestas, as crostas, os rachados. Meus pés são minha metáfora. Disse a podóloga “aaaaaa, eles ficam assim cascudos, com calos e grossos porque a pele é muito sensível, literalmente seu pé ,ao andar, machuca”. E eu pensei torcendo o nariz “humpf, as vezes odeio um pouco a falta de comoção com que as pessoas simplórias entregam-nos as verdades”. Odeio o tempo inteiro o meu pedantismo. Mas tanto ele quanto o ódio fazem parte de todo o intrincado mecanismo crosta-protetor que eu tenho em torno de mim. Meus “calos existenciais” porque literalmente, viver, em mim, machuca. Eu não ligo, mas me cuido bastante. Até porque viver, assim como andar, é um troço que “apesar de tudo” eu gosto.
Porque eu gosto tanto tenho que viver pela metade.
De tão frágil fico dura.
Enigma binário ordinário. Me sinto uma prima mística do DOS.
Bom. Fora isso, na última semana o mundo começou a brincar seriamente com a idéia do fim. Vai ser o tempo de nos acostumarmos gradativamente com a catástrofe e a paranóia que não sentiremos dor verdadeira quando acabar. Parecerá só um por do sol um pouco mais esquisito do que os outros.
Há, nesse instante, sobre o nosso universo, na dimensão imediatamente seguinte, uma espinha de peixe cercada de estrelas, com dragões de todas as dinastias mastigando seus pescoços metálicos. Mas isso tem milhares maneiras de se contar.

Thursday, February 1

boletins da cidade dos rios sufocados 2


Descobri que alguma coisa vai mal com a minha tireóide. A gata vai bem obrigada, no cio, que é quando ela fica manhosa e finge que não é mais agressiva. O dia amanheceu nublado, depois fez muito sol e calor, no final da tarde choveu muito, agora, como é madrugada, o céu é bordô. Aqui de madrugada o céu é sempre bordô. Às vezes eu penso que todo o recalque é uma tentativa frustrada de conter, comportar, tentar controlar toda a torrente de desejos e absurdos que ter sempre uma madrugada bordô causa no estômago daqui. E “quem és tus”?
Mas dá pra ver nos olhos das putas velhas nas praças.
Dá pra perceber nas coisas que você jamais faria em qualquer outro lugar do mundo.
A gente se lembra disso quando o sol bate na pele como se fosse o deserto.
E nos protegemos depressa lembrando que aqui é a cidade da chuva.
Eu vim pra cá pra ver chover.
Nas últimas semanas os jornais da cidade vieram com mensagens “revolucionárias retro-futuristas”, como “o fim do mito da cidade do futuro” ou “turistas questionam as questões sociais da cidade”.
Está chegando, eu sei.
A cada lugar seu momento.
E cada pessoa é um lugar.
Se eu não estivesse tão interessada nos fogos de artifício, poderia parecer um corvo que sempre persegue o caos. Mas esta cidade de rios sufocados tem as melhores nuvens do mundo. Isso pra mim significa o suficiente, se é que vocês entendem de volatilidade.
Da janela da sala eu sempre vejo numa vitrine, uma manequim sem cabeça iluminado.
O que isso pode fazer em mim?
Todas as coisas me causam o tempo inteiro.
Eu vim do mesmo lugar que você que não presta atenção.
A diferença é que eu não conseguir desligar a chave. E depois de um tempo, parei de tentar.
Todo aquele que assiste o noticiário inteiro sem se sentir mal acredita estar imunizado.
Alguma coisa na minha tireóide não vai bem.
Só mais um desses efeitos de estar neste mundo agora.
Me preocupo com a mesma desatenção ordinariamente paranóica com que vejo o mundo despencar.
Sozinhos num quarto de hotel estranho somos todos tão iguais.

Saturday, January 27

Ouro de Fotografia

Por Cláudio Azevedo


Sou a sombra ou escuridão?
Eu que vejo a natureza ou o sol que enxerga tudo?
Sou a forma ou a alma da solidão?
E a vida, se faz de seres ou de sombras?
Mas seres sem sombras?
E sombras sem seres?
Sombras mudas, cegas, surdas
Sombras sinceras, simples, escuras
Sombras: Mistério e filosofia
Componente parte de uma alquimia
Alquimia da fotografia.



Friday, January 26

Boletins da cidade dos rios sufocados 1



Eu olho pra gata que se contorce e mia como se um enxame fosse sair pela cabeça.
Ela vai vomitar pelos olhos outra vez.
Talvez eu tivesse pena dela em outra situação.
Mas eu também estou sozinha com isso,
que pelo menos a maldita felina divida o segredo e a sina comigo.
Com um gosto muito ruim estalando na língua, decido, entre outras coisas, que já é hora de abandonar os adoçantes saudáveis.
Assumir que não haverá um lugar daqui a 100 anos para se viver com esse corpo por 100 anos.
Que são só seis anos.
Por deus, pelos próximos seis anos pretendo realmente consumir muita vida. Ou o que for possível. Por falar nisso, me contaram que alguns viciados em cocaína têm um “tique nervoso” na eminência de usar a droga. Vontade de cagar. Eu desvendei o que é isso. É a ansiedade da aproximação de algo que contém as duas faces do desejo. Vocês me entendem, a compreensível e a parte negra. Como antes de entrar no palco quando você sabe que vai cativar. Como se apaixonar ferozmente por aquilo que não lhe pertence. È o que acontece comigo, que me divirto sonhando com catástrofes e o fim do mundo. Já que eu não posso evitar. Maldita dieta, a fome me deixa emotiva.
A gata faz um nó de si mesma, querendo aproximar com raiva todos os seus átomos, diminuir todos os grandes vazios que existem entre eles, como nós fazemos no shopping center, crenças emprestadas e outras drogarias. Condensar-se ao máximo, voltar a ser ponto, sumir, explodir pra dentro.
Sim, pode se parecer com um orgasmo, mas ao avesso.
(Também sei o motivo das dores de estomago de kurt cobain. Alergia, mas eu não acredito realmente que ficar sem glúten teria diminuído a agonia dele e que a heroína não seria mais forte. Então de que teria adiantado avisar)?
Gosto de ficar espiando quem outras pessoas dizem que são na internet, pra tentar me reconhecer.
Agora a gata caça borboletas imaginárias, tem alguém gritando na rua de trás, tem alguém fritando no apartamento ao lado, não é cedo nem tarde de uma quarta-feira. Meus pés estão descascando e minhas pernas estão cansadas. Aparentemente eu não saio muito do lugar,
mas a verdade é mentira.
Porque eu já fui um pouco de todos os lugares que existem.
Fascination street, todos nós adoramos acreditar que ainda estamos numa, mas a verdade é que temos tirado ânimo e paixão de pedra.
Por dentro. Eu disse antes e repetirei muitas vezes, maldita dieta.
Quando eu não posso comer, acumulo livros e situações. Como um cão de guarda, comida é o que mais me dopa. A verdade é que o super-mercado faz isso com todo mundo, só que a maioria não percebe porque já se acomodou demais ao fundo. Eu pareço ter sido feita pra boiar, existir entre dois ou mais estados. Com o tempo se torna uma coisa quase normal.
A verdade é mentira.
A gata dormiu e eu nunca saberei o que ela viu, mas sei tudo o que EU já vi. Seria uma loteria interessante poder esquecer. Eu me cagaria diante dessas duas pílulas.
Se eu avisasse o mundo, adiantaria?
Se eu tivesse avisado os garotos da cidade onde eu nasci adiantaria?

Os garotos da cidade em que eu nasci prezam sua curiosidade, não domam sua sensibilidade, quase nunca fogem. Eles carregam bucolismo porque é bom ser assim. Sem maiores expectativas de vida, são sempre companhia. Todos carregam uma mesma coisa lá dentro que ninguém quer ir buscar. Esse segredo abafado, durante um tempo é um charme, depois vira mofo. Eles apodrecem cedo. Cada vez mais.
Viver é metálico.
Uma vez eu sonhei que na cidade onde eu nasci, tudo era cinza e âmbar e eu corria perseguida por nada onde não tinha mais ninguém. Só uma fumaça de perda. Encontrei todos na praça, deitados no chão, uns por cima dos outros, camadas de pessoas, os debaixo já deviam ter morrido, os de cima, se moviam minimamente, se arrastavam. Mas ninguém gritava, ninguém implorava, ninguém nada. Ninguém nada.
As notícias que eu recebo da cidade em que eu nasci, é que metade acompanha pastores que espancam para salvar, e outra metade apanha do crack.
Teria adiantado avisar?
Será que eu escapei? Escaparemos?
A gata quer comer. Eu pelejarei por estar faminta e alerta. Aqui.
Aqui, longe da cidade em que eu nasci, numa outra, que começa a afundar, como o Titanic. Uma cidade que adoraria ser comparada com o Titanic, apesar da tragédia.
Uma cidade de rios sufocados.
Aqui a noite nunca é preta.
Às vezes, pra suportar, tudo que importa é que no final vejamos fogos de artifício.

sara lee xxx

Thursday, January 18

Olá colegas, vim aqui dar um oi e aproveito pra dexar este site http://www.universiabrasil.net/html/materia/materia_eidd.html , eu achei bem interessante porque tem links pra entrar em alguns fóruns de discussões sobre TVs Universitárias e outras matérias bem legais, então quem tiver um tempinho passa lá tá. Bjinhos da Rhozaura